Por que filmes recentes com protagonistas mulheres contra vilões homens são tão mal escritos?

in Brasil3 years ago
image.pngPôster do segundo filme da franquia "Alien" com Sigourney Weaver

É como se o ataque do vilão não fosse uma ameaça real e a heroína não tivesse arriscando nada ao enfrentá-lo, ao contrário de clássicos como Alien, Exterminador do Futuro, etc.

Talvez a resposta esteja em uma regra não-escrita que está dominando novas produções.


Antes de produzir um filme, tenha em mente a seguinte regra:

Por causa do Twitter e do "novo jornalismo", é proibido mostrar qualquer situação em que uma mulher possa ser percebida como mais fraca que um homem. O filme pode ficar uma droga por causa disso, mas é melhor do que ter sociólogos de Twitter postando em suas colunas nos jornais grandes sobre o filme ser "machista e problemático". E mesmo que o filme seja criticado pelo público, contará com um monte de sociólogos de Twitter acusando a plateia de ser todo o tipo de adjetivo negativo.

image.pngPôster duramente criticado pela imprensa por retratar um vilão agindo como vilão.

Essa ideia nova de que uma mulher jamais pode ser representada como "fraca" bate de frente em um conceito narrativo de séculos chamado "A Jornada do Herói", muito usado para construir narrativas atraentes para quase qualquer público. A ideia dessa Jornada do Herói consiste basicamente em mostrar o desenvolvimento do protagonista e os riscos enfrentados por ele. Geralmente uma narrativa dessas possui alguns aspectos bastante visíveis:

  • Início:
    • Herói apresentado como uma pessoa comum e pacata.
    • Vilão derrota herói de forma humilhante ou causa enorme dano ao ambiente de vida do herói.
    • Herói foge para tratar suas feridas.
  • Meio:
    • Herói treina pesado, adquire armamento, estuda estratégia para derrotar vilão.
    • Vilão mostra seu poder e inteligência aumentando e consolidando seu domínio.
  • Fim:
    • Herói parte para enfrentar vilão.
      • Muitas vezes herói não está pronto, mas precisa partir antes que o vilão se torne poderoso demais e/ou ameace companheiros do herói.
    • Durante o confronto, herói começa em desvantagem.
    • Vilão é derrotado. De preferência sem um deus ex-machina, como um evento completamente arbitrário, uma redução das capacidades do vilão ou aumento das capacidades do herói sem qualquer coerência narrativa.

Dá pra perceber que as reclamações e acusações promovidas por sociólogos de Twitter batem de frente com a ideia da Jornada do Herói no caso de uma protagonista feminina, pois se em nenhum momento a mulher deve ser apresentada como fraca, eliminando assim a ideia dos riscos que a heroína corre na narrativa.

Outra noção empurrada é a ideia de não demonstrar imperfeição, pois a personagem feminina precisa servir de modelo ideal para as mulheres do público. A personagem dotada de perfeição divina acaba tendo um outro efeito, que é o de bloquear o sentimento de empatia do público, que não consegue enxergá-la como uma pessoa de verdade, o que prejudica bastante a imersão.

Além da ideia da protagonista não poder ser apresentada de alguma forma que possa sugerir fraqueza, temos também a representação caricata dos novos vilões, na qual eles são apresentados como incompetentes e com motivações toscas. Isso acaba com a noção de que a heroína estaria correndo algum risco ao enfrentá-lo.


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