Ler parte 4
10 de Fevereiro
Idrissa e Kenna partilham a sala de trabalho.
Kenna: "Vamos a mais uma jornada de trabalho. Hoje também vieste mais cedo. Começas hoje um ensaio novo, não é?"
Idrissa: "Sim... grilos."
Kenna: "Ah os famosos grilos."
Durante anos a mosca-da-fruta foi vastamente usada em experiências. Era fácil de manter e os seus ciclos de vida curtos permitiam uma grande variedade de ensaios. Hoje são raras e protegidas nos poucos sítios onde são detectadas com frequência. Algo perturbou o seu mecanismo reprodutor e hoje em dia a maior parte é estéril. As posturas continuam a ser enormes mas só uma pequena parte dos indivíduos são férteis. O alerta surgiu em 2035 e o declínio foi súbito. Não se sabendo ao certo a origem do problema é difícil agir e restou a opção de salvaguardar manchas de habitat onde a espécie está presente. Entretanto algumas espécies de grilos têm vindo a ganhar destaque como objecto de ensaio por outras razões relacionadas com a forma como detectam alimento através das antenas. Aparentemente é mais complexo do que se pensava e pode ter repercussões em várias áreas da biologia.
Idrissa: "E tu continuas nos telómeros?"
"Sim, só paro quando conseguir viver até aos 200 anos." - respondeu Kenna, sorrindo.
"Essa temática está a ser estudada há tanto tempo e não tem havido propriamente grandes avanços." - disse Idrissa
"Há avanços no conhecimento base mas não tem sido possível aplicar nada em segurança. Não é como se descobríssemos uma pequena coisa e isso prolongasse a nossa vida um ano. Quando for aplicável, vai ser um pacote de pequenas coisas que terá um impacte grande." - explicou Kenna.
"10 anos?" - perguntou Idrissa?
"30 ou mais" - respondeu Kenna com um piscar de olho de quem está confiante no seu trabalho.
Isso é espectacular. Já agora não arranjas maneira de nós homens vivermos tanto quanto vós?" - brincou Idrissa - "A nossa esperança média de vida já está nos 80 mas as mulheres continuam à frente com grande destaque."
"Vou ver o que posso fazer por vós mas acho que não têm salvação." - retorquiu Kenna com boa disposição.
Idrissa: "Queria falar com a Ying Yue mas são horas de meditação. Ontem à noite ela disse algo acerca de uma doença a emergir na Asia. Segundo ela não teve destaque nas notícias mas o pessoal no terreno parece assustado."
Kenna: "Mas é na China? Como é que ela soube disso?"
Idrissa: "Acho que sim, na fronteira com a Birmânia. Ela é de lá e pelo que percebi muitos familiares dela moram lá junto da fronteira."
Kenna: "Ok. Se não houver cobertura oficial, talvez não seja nada de alarmante mas perguntamos-lhe mais logo."
imagem: pixabay.com