Um conto espacial (Parte 6)

in #pt3 years ago

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-PARTE 6-

11 de Fevereiro

Após o almoço, Daniel e Arwa trabalham na horta.

Arwa: "Finalmente vou ter comida da minha terra!"

Daniel: "Sim, traz lá as sementes. Precisas de quantas câmaras?"

Arwa: "Duas para o arroz. Com vinte cápsulas cada. Das pequenas." - "Dois módulos para os pimentos de nano-ciclo e se houver espaço mais um módulo para as ervas aromáticas."

Daniel: "Passas bem sem tâmaras? Já não temos mais espaço enquanto não terminarmos algumas das outras culturas."

Arwa: "Ainda temos nozes e tâmaras a sério que trouxemos. As que posso cultivar nos casulos não são tão boas. Por enquanto ficamos assim."

Daniel: "Já viste estes rebentos de tudo e mais alguma coisa que a Ying Yue tem aqui? Devem ser pelo menos umas vinte espécies. Ela ocupa mais espaço da horta do que era suposto mas ninguém se incomoda porque isto é mesmo muito saboroso."

"E nutritivo." - acrescenta Arwa. - "Ontem ao jantar ela não parecia muito tranquila com as notícias lá da terra dela, pois não?"

"Ou com a falta de notícias" - disse Daniel. - "Esperava falar mais tempo com a família e saber ao certo o que se passa lá mas não conseguiu falar com as pessoas que queria e o que as outras transmitiram não foi muito esclarecedor."

Arwa: "Ela costuma falar muito com os pais e uma prima."

Daniel: "Sim, a prima e os tios vivem mesmo junto à fronteira onde apareceu a doença. Ontem tentou falar com a prima mas ela não respondeu. E ao falar com a mãe, ficou com a sensação de que ela não lhe estava a contar tudo. O pai mal falou com ela porque estava ao mesmo tempo a falar com alguém que ela julgava ser o tio. Segundo a mãe dela, é quase certo que se trata de um vírus mas ainda não tinha a certeza."

Arwa: "De vez em quando aparece uma coisa dessas para desestabilizar a paz social. Felizmente os últimos têm sido fraquinhos e com actuação localizada."

Daniel: "Se surgir algum mais preocupante não podemos partir do princípio que vai ser como os outros e que passa num instante. Quando apareceu o SARS-CoV-2 não havia uma cultura popular de como agir porque a última grande pandemia tinha sido há demasiado tempo. Quem passa por uma, em princípio reage melhor a uma segunda. Mas como a anterior já tinha sido há cerca de 100 anos, emergiu a ideia de que pandemias eram coisas do passado e que o novo vírus era parecido ao da gripe. Lembras-te da gripe?!"

Arwa: "Lembro pois. A velha influenza. Ainda apanhei isso uma vez antes de desaparecer. Ou foi no último ano ou no penúltimo, não me lembro bem."

Daniel: "Agora temos os SARS-CoV no seu lugar como coisas chatas que nos atrapalham a vida. O CoV-2 ainda demorou uns anos a acalmar mas o CoV-3 foi mais meiguinho."

Arwa: "Eu estava exactamente no Canadá quando o CoV-3 surgiu. O plano era estar lá 6 meses num laboratório com uma equipa especializadíssima na minha área mas não fiquei até ao fim. Estava no quarto mês quando o vírus foi detectado e parou imediatamente tudo. Foi tudo isolado e os destacados como eu, após testarmos negativo, fomos prontamente enviados de volta."

Daniel: "Mas estavas perto do foco inicial?"

Arwa: "Não estava perto mas também não estava muito longe. Estava a cerca de 200Km mas eles não brincaram com a situação. Alertaram todo o mundo e controlaram as fronteiras no próprio dia. Passados 5 dias eu estava de novo na Arábia Saudita."

Daniel: "Felizmente ficou contido. Não era extraordinariamente contagioso mas a letalidade era assustadora. Um pouco ao contrário do anterior quando surgiu."

Arwa: "Olha eu já fiz a minha parte aqui. Tu é que és o agricultor espacial. Vou para o laboratório que o meu trabalho não se faz sozinho."

Daniel: "Ok, vai lá que eu fico aqui mais um pouco a cavar batatas cósmicas."


imagem: pixabay.com

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"batatas cósmicas" 😂.
Serão crocantes e temperadinhas de sal?!

And crispy bacon