Uma Cantiga do Maldizer, de Afonso Eanes de Coton, aos novos #trovadores V

in #esteem6 years ago

E como se comportaria um poeta com dor de corno sem que este seja corno? Ou seria dor de cotovelo?

Regressamos ao século XIII na companhia de Afonso Eanes de Coton - um nobre galego, frequentador de tabernas e putas - e de uma cantiga sua, em duas versões.

trovador e uma dançarina (soldadeira) . detalhe de um objeto do século XIII . autor desconhecido . fonte

versão portuguesa
versão galega (original)
Maria Mateu, daqui vou desertar
De cona(1) não achar o mal me vem.
Aquela que a tem não ma quer dar
e alguém quem ma daria não a tem.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!

Quantas conas foi Deus desperdiçar
quando aqui abundou quem as não quer!
E a outros, fê-las muito desejar:
a mim e a ti, ainda que mulher.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
Mari'Mateu, ir-me quer'eu d'aquén,
porque non poss'un cono baratar;
alguén que mi o daría non no ten,
e algũa que o ten non mi o quer dar.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'es de cono com'eu!

E foi Deus ja de conos avondar
aquí outros, que o non han mester,
e ar feze-os muito desejar
a min e ti, pero que ch'es molher.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'és de cono com'eu!


Estes dois versinhos se referem à soldadeira(2) Maria Mateu. Neles, o autor insinua que a moça era homossexual mas o que está mais claro do que água é que ela o ignorou completamente.

Doeu aí?!


Obrigada e espero que tenham se divertido!

\Abraços/

@tmarisco


Nota/s e Referência/s:

(1) cona: sinônimo muito grosseiro para vagina. É amplamente utilizada em Portugal.

(2) soldadeira: provavelmente, trabalhavam juntamente com os trovadores tocando algum instrumento ou dançando nas cortes medievais.

  • Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, de Natália Correia

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Obrigadíssima!

é sempre bom ler estas poesias antigas, vou dar uma olhada nos teus posts mais antigos para ler outras

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Nossa! Agora q vc disse isso, lembrei -me que não coloquei os posts anteriores da série :/ vou ver se edito isso amanhã.

Valeu!

E porque estes versinhos de desabafo, nada adiantou ao autor, pois foi ignorado e rejeitado pela mocinha MariaMateu...kkkk Ficou apenas nos desejos e lamentos.
Adorei @tmarisco, teriam mais cantigas deste autor?
Estas escritas antigas são lindíssimas, encantam em sua entonação e versos tão ritmados.

Em tempos medievais (e não só), as trovas eram moda e serviam para todo tipo de comunicação: fofoca, intriga, denúncia, devaneios, amor... Era uma poderosa ferramenta, como deve imaginar. Hoje, não se vê, a poesia cresceu e tomou outros corpos. A rima tem de ser extremamente oportuna para que não caia no rol infantil das "batatinha quando nasce". O que você observou sobre as características da trova, foi certeiro e em [DICAS] Quer fazer ótimas POESIAS EM TROVA? #TROVADORES eu elenco outras.

Sabe-se pouco deste autor, há pouca coisa identificada e publicada. Aqui encontrei alguns textos em sua forma original (em galego medieval).

Por esquecimento, eu acabei por não listar os posts anteriores e vou aproveitar para colocá-los aqui, caso você e outros queiram lê-los:

"Morreu Bocage, sepultou-se em Goa!" aos novos #trovadores

"Noite de Núpcias" (Augusto Gil) aos novos #trovadores II

"Como eu não possuo" (Mário de Sá-Carneiro) aos novos #trovadores III

Soneto e Epitáfios de Filinto Elísio aos novos #trovadores IV

E é isso!
Valeu pelo papo :)

\Abraços/