Depedindo-se do inverno

in #pt6 years ago

Um pequeno relato sobre um acampamento no fim do inverno.

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Eu e alguns amigos decidimos subir a serra para acampar em uma propriedade na localidade de São Miguel da Serra, Santa Catarina, a 19km da minha cidade. O local de acampamento era um terreno onde havia um museu rural e área de camping. Agendamos com o proprietário uns dias antes e fomos até lá para acampar mais uma vez antes que o inverno acabasse.

Bem munidos de provisões para nossa breve estadia, dirigimo-nos sem problemas até o local, onde encontramos um amigo nosso de outra cidade nos aguardando. A tarde era de sol, apesar de não fazer muito calor graças à atmosfera invernal ainda reinante naquela altura do mês de setembro.

Ao entrarmos na propriedade depois de um bom tempo esperando que o dono chegasse, decidimos fazer uma pequena caminhada de reconhecimento e buscar um lugar para acampar. Primeiramente, subimos um monte que encerrava num campinho repleto de araucárias (imagem 1). De lá era possível ver longas porções de terras repletas de mata nativa com seus pinheiros e também vastos trechos de reflorestamento de pinus. A visão era privilegiada e, a meu ver, ficaria ainda mais bonita se fosse um dia cinzento e de garoa. No entanto, fazia sol e o céu estava azul e, mesmo assim, a visão era bela.

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Pensávamos em acampar lá por cima mesmo para aproveitar a vista, mas um dos nossos amigos nos convenceu a acampar perto do riacho, onde seria mais fácil encontrar lenha para nossa fogueira. Depois de um pouco de debate sobre as possibilidades, convencemo-nos a procurar algum lugar à beira rio. Ao descer o monte e costear o pequeno lajeado que passava na propriedade, decidimos entrar na floresta. Quase toda a propriedade era de grama cortada, como dizemos. Como nós temos o hábito de acampar em florestas fechadas e lugares mais inacessíveis, acampar em grama cortada soava como um tipo de ofensa. Por isso decidimos entrar na mata e procurar algum lugar em que pudéssemos mais desconfortavelmente nos acomodar.

Seguindo uma trilha que corria perto do lajeado, andamos um tanto e achamos uma pequena clareira que servia bem às nossas expectativas. A trilha ainda seguia mais para frente. Por curiosidade, caminhamos mais na trilha, parando em um trecho que a água já havia tomado.

De volta à clareira, pomo-nos a buscar lenha. Essa é a hora em que o grupo se separa e todos sabem bem o que fazer. Uns vão longe buscar lenha caída, outros vão desgalhando ramos secos para iniciar o fogo e cada um encontra uma ocupação. Em cerca de meia hora, já contávamos com lenha suficiente para passar a noite. Encontramos muitas árvores secas caídas, o que facilitou o trabalho.

Ao cair da noite, depois de um bom tempo de conversa onde dois de nossos amigos de debruçavam sobre histórias antigas de caserna, demos início ao fogo. Logo, estávamos em roda da fogueira conversando e preparando comida. Eu havia temperado muito bem uns filés e meu amigo também levara carne de gado. Não faltaria comida de modo algum.

A noite seguiu ali com conversas, bebida e comida. Após bastante tempo disso, decidimos subir novamente ao monte antes mencionado. A vista noturna com céu limpo era muito cativante. Era possível ver um céu totalmente estrelado e as marcas nebulosas da via láctea muito claras no firmamento. Conseguimos ver, inclusive, alguns meteoros cruzando aquela vastidão escura. Era uma noite memorável para qualquer amante da astronomia.

Após o passeio, todos foram dormir e eu permaneci ali junto à fogueira bebendo algo e ouvindo música. Decidi ainda dar uma volta pela escuridão, sozinho de madrugada. Apesar do sol que fazia de dia, a noite estava gelada, o que para mim era ótimo. Fiquei mais de uma hora passeando pela escuridão ouvindo minhas músicas e bebendo. Depois de cansar e achar que já estava muito tarde, retornei, estiquei meu saco de dormir e entrei em sono profundo até chegar a manhã.

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Acordamos todos lá por 7 horas da manhã, de certa forma bem dispostos. Ficamos ali conversando por um bom tempo e arrumando as coisas. Às 9 já havíamos limpado tudo e nos pusemos no caminho para casa. Depois de conversar com o proprietário um pouco e pagar a taxa de acampamento, já estávamos saindo com o carro.

Um dos nossos amigos, no entanto, fez uma interessante sugestão. Logo após o terreno do acampamento, havia uma casa de madeira abandonada há décadas. Ela pertenceu ao bisavô do nosso amigo. A casa tinha um século de idade e o terreno só contava com alguns cavalos dispersos. Os parentes usavam para plantar pinus, mas o pinus já havia sido retirado, deixando para traz um ar de desolação e devastação, com restos dessa floresta de pinus espalhados pelo campo. Nosso amigo sugeriu de entrarmos no local para conhecer.

Pulando o portão sem dificuldades, seguimos, sob o olhar curioso dos cavalos distantes, a estradinha que dava até a casa. Como podem ver nas fotos, a casa é muito peculiar, um tipo de casarão de madeira que poderia, sem grandes problemas, ser palco para um filme ou história de terror.

A varanda estava para cair e muitos sinais do tempo eram visíveis na casa. No entanto, era possível dizer que o estado de preservação estava bom em relação ao tanto de tempo que ela havia ficado lá abandonada. Havia muitas coisas espalhadas pela casa, coisas antigas. No andar de cima, encontramos várias revistas e jornais em idioma alemão (aquela localidade foi colonizada por alemães).

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Ficamos cerca de meia hora passeando pela casa e pelo terreno até decidirmos ir embora. Voltamos pela mesma estradinha e pulamos o portão. Ficamos na frente do portão conversando sobre coisas diversas quando um de nossos amigos chamou nossa atenção e apontou para a borda da floresta: “olhem!”. Quando olhamos, deparamo-nos com um veado bem longe saindo aos pulos da floresta, saltitando por uns 10 metros pelo campo aberto e, então, voltando para a mata. E isso encerrou nosso acampamento. Pegamos os carros e fomos para casa.

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Um relato muito convidativo. Eu adoro o céu quando está dessa forma que você descreveu, é quando mais sinto minha conexão com o cosmo. E achei você bastante corajoso por andar na mata no escuro sozinho, rs. Parabéns pelo texto.

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Exatamente, era bem o que se sentia. Pena que nas cidades não conseguimos ver nada próximo disso...
Sobre andar no mato, lá era tranquilo, nossa, nem dava graça. Agora, se for no meio do mato fechado, aí dá medo mesmo.
Obrigado pela leitura e comentário :)

ohh is a great campaign and shot the amazing adventure have great day

Uau ! Que sorte vocês verem um veado, pois eles estão em extinção! Posso dar uma dica? utilize a tag #conhecerbrasil

Capaz! Vi algumas vezes veados, algumas delas bem perto da cidade. Não sabia que a situação estava assim.
obrigado pela leitura e pela dica!

Pois é. Antes de vir para o sul eu morei em um lugar na serra do estado do RJ que tinha veados, mas que atualmente nunca mais foram vistos.

Ah, depois do fork, tudo está mais lento no Steemit, mas utilizando a tag você poderá ser selecionado pelo @msp-brasil e também receber votos !

Abraço!