Petro - estará a Venezuela na vanguarda dos tokens soberanos?

in #pt6 years ago

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Ontem o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, apresentou mais detalhes sobre o primeiro token soberano emitido por um governo.

Sempre disse que a tecnologia blockchain é revolucionária porque tanto pode libertar a humanidade da tirania dos Estados e bancos centrais, como pode escraviza-la. Como a blockchain é um livro de contabilidade aberto, os Estados podem aceder às nossas transações, como decidir onde gastamos o dinheiro. Os Estados podem também decidir quem pode transaccionar na rede, se um cidadão por qualquer motivo é deixado de fora duma blockchain soberana, é como se não existisse e estará condenado à indigência.
É curioso que seja a Venezuela o primeiro país a lançar um token soberano. O país sul americano vive uma crise económica há vários anos, com hiperinflação e escassez de produtos básicos. Satoshi Nakamoto deve estar a rir-se desta iniciativa já que é contra tudo o que descreveu no white-paper da Bitcoin em 2009.
O Petro promete ser um crypto activo respaldado pelas reservas petrolíferas da Venezuela. Estas reservas são as maiores do mundo, acima de países como a Arábia Saudita ou Canadá.

Maduro garantiu ontem na conferência de imprensa que cada um dos 100 milhões de Petro estará respaldado por 1 barril de petróleo venezuelano. À semelhança do que acontece com o DigixDAO, mas em vez de ouro será o petróleo.
A ICO do Petro abrirá ao público no início de Março onde serão disponibilizados 82,4 milhões de tokens ao preço de 60$. Dos fundos arrecadados 55% serão usados para a criação de um fundo soberano, o resto será para financiar a implementação do projecto.
Esta crypto deixa-me com bastantes dúvidas. A Venezuela é conhecida por ser uma ditadura, cujo regime é conhecido por apoiar o narco-tráfico e por ter a população na mais extrema miséria apesar de ter as maiores reservas de petróleo. A mim parece-me uma tentativa de financiamento deste regime aproveitando o clima de euforia que há em relação às cryptomoedas.
Há várias mensagens contraditórias em relação ao projecto. Na conferência de imprensa, Maduro e outros oficiais do governo, começaram por mostrar alguns ASIC é outro material informático para minar Bitcoin. No entanto, o Petro está pré-minado, ou seja os 100 milhões de tokens já estarão em circulação quando for realizada a ICO. O Petro é totalmente centralizado e apesar de nos documentos oficiais ser referido que a oferta estará limitada aos 100 milhões de tokens, é difícil de acreditar que se a ICO for um sucesso, o governo venezuelano não amplie essa oferta como fez com a moeda nacional.
Outra questão que me levantou bastantes dúvidas foi a leitura do whitepaper em inglês e em espanhol. Na versão espanhola é dito que o Token será lançado na plataforma ethereum (ERC-20) e que o total de moedas será pré-minado antes da ICO. Na versão inglesa não há nenhuma referência a esse facto e além disso contradizem a versão espanhola já que afirmam que o Token será lançado na plataforma NEM (New Economy Movement).


Outro facto que não é referido é a convertibilidade de Petros para petróleo. É através de contratos de futuros, é mesmo um barril de petróleo? Onde podem os investidores converter o Petro naquilo que está respaldado?
Outro problema é a ineficiência da produção petrolífera venezuelana. A PDVSA, a empresa estatal responsável pela exploração de petróleo no país é conhecida por a cada ano que passa conseguir produzir menos barris de petróleo. Ainda há pouco tempo saiu uma notícia que a Venezuela importou petróleo.
Esta crypto parece-me destinada ao fracasso, a ideia é interessante mas os seus criadores e apoiantes não tem a melhor fama. Para mim esta é apenas uma forma de Maduro se capitalizar para ganhar mais poder num futuro próximo. Tenho bastantes dúvidas que haja petróleo para cobrir todos os tokens e um país colapsado economicamente e sem um mercado minimamente confiável será difícil passar as ideias para a realidade.
A única coisa positiva que vejo neste projecto é o facto da Venezuela não se poder queixar mais do bloqueio económico americano. Com o Petro pode evitar as sanções económicas americanas e financiar-se diretamente com investidores, desta vez já não poderá queixar-se do imperialismo. Apenas de si própria.